Biografia

Na metade do século passado, minha saudosa vovó Ana Isabel renunciou sua vida pacata e instável no interior do estado do Rio, mas precisamente Barra do Piraí, em busca de uma vida melhor. Numa época em que as mulheres, sobretudo as negras como ela, sofriam uma série de limitações impostas, pode-se dizer que minha avozinha foi desbravadora. Segundo ela, tal jornada se deu por ordem divina, após uma consulta com um astrólogo, o qual foi enfático acerca de seu destino: a cidade de Niterói!

Após superar os desafios iniciais próprios de toda mudança, ela obteve uma estrutura minimamente básica onde criou seus filhos sendo doméstica em casa de família na até então capital do estado.E muitos anos depois eu vim ao mundo através de sua filha mais nova, minha também saudosa mamãe Zena Queiroz.

Graças ao anônimo espiritualista, recebi a graça de ser nascido nesta cidade que eu amo. O único niteroiense de toda a família, inclusive! E graças também à força dessas mulheres, em especial minha mãe, que se tornou merendeira na Escola Estadual Manuel de Abreu, onde me tornei estudante por quase uma década.

Foi num ambiente muito conturbado do ponto de vista econômico, social e familiar que minha identidade foi formada, e não posso excluir de forma alguma o papel da Assembleia de Deus, igreja evangélica pentecostal a qual pertenço até hoje, na formação da minha cosmovisão, ainda que hoje tenho um papel altamente crítico ao que ela se tornou nos últimos anos.

É certo que nos parágrafos acima estão as bases principais que influenciaram toda a minha vida: o papel social da mulher, a proeminência da educação e a primazia da fé. Sim, porque foi o impulso revolucionário das mulheres ancestrais da minha família que rompeu o status quo de uma sociedade estruturada no machismo que não as deixava ter voz ou vez; foi através da educação pública que eu pude ter uma formação escolar que me proporcionou uma leitura acurada da realidade ao meu entorno; e por fim, a fé, em todas as suas matizes, sobretudo cristã, que meus antepassados empreenderam em suas ações e foi inspiradora para que eu me inspirasse em seus passos.

Minha luta: Combate à Desigualdade

Por falta de recursos financeiros, minha família foi obrigada a morar no Morro da Chácara, em Niterói, quando eu tinha 8 anos de idade. Desde cedo aprendi que a desigualdade social era o maior de todos os demônios a ser exorcizado. Entender o porquê de minha mãe e eu termos de buscar latas d’água na cabeça na beira da rua enquanto quase todos os meus companheiros de escola possuíam água diretamente em suas torneiras foi um longo e árduo exercício.

Esse contraste entre a beleza do bairro de Icaraí onde eu estudava e a dureza da vida na favela onde fui criado me fez passar todo e cada dia me questionando sobre as origens de tamanha desigualdade e que medidas poderiam ser tomadas para minimiza-la. A princípio, eu só pensava na minha realidade pessoal. Conforme a maturidade foi me revelando que todos nós somos parte de um todo, vi o quão ineficiente seria buscar unicamente o meu crescimento individual, já que em minha volta havia dezenas de pessoas padecendo até mais do que eu.

Obviamente que minha formação cristã foi essencial para moldar meus pensamentos em direção à solidariedade. Afinal, foi na igreja evangélica que me apresentaram a história de um homem que literalmente deu a vida em favor dos seus amigos e exigia o mesmo de seus seguidores. Como eu era um deles- e continuo sendo - não demorou muito para que eu entendesse que meu papel no mundo transcenderia à minha própria existência. Ou seja, havia uma missão a cumprir!

O grande obstáculo era: como ser útil ao mais vulnerável quando você também é um deles? E o pior: como contribuir para superação de um sistema em que quem tem é dado e quem não tem, até o que tem é tirado?

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Minha Causa: Justiça Social

Aos poucos fui concluindo que o acesso à educação que havia sido vedado aos meus genitores, mas agora estava ao meu alcance, ainda que não da forma mais adequada, seria a chave que abriria as portas da justiça social. Sim, porque os meus contemporâneos que tiveram a chance de qualificar seus dons e talentos artísticos, esportivos e técnicos experimentaram uma grande evolução econômica e social.

Todavia, também percebi que os alunos da escola pública como eu não dispunham da mesma estrutura educacional que os alunos da escola privada. Não foram poucas vezes em que meus estudos sofreram prejuízos em razão de greves e faltas por parte dos professores, da superlotação das turmas, da ausência de espaço físico adequado para a atividade estudantil, currículo escolar defasado e por aí vai.

Enquanto nas escolas privadas os estudantes tinham o dobro de tempo de aula de português e matemática, laboratórios de informática e com muita frequência realizavam excursões a museus e teatros, nós comemorávamos quando alguma aula era suspensa de tão insuportável que era o ambiente, o método, a estrutura e etc.

Ficou evidente para mim que a fonte da desigualdade estava ali bem na nossa frente. Bastaria olhar os resultados dos vestibulares para averiguar que o desempenho das escolas privadas historicamente sempre foi superior ao das públicas, replicando assim no mundo do trabalho uma disparidade que já se notava no mundo escolar.

Pronto! Já estava ciente da origem do problema que tanto me incomodava. Mas isso não era suficiente. Localizar o problema é apenas o primeiro passo, não o derradeiro!

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Missão e Propósito

Você já se deparou diante de uma missão que parecia muito maior do que suas forças? Pois então! Eu já sabia O QUE FAZER e COMO FAZER, mas não dispunha das FERRAMENTAS e RECURSOS para executar. A sensação de impotência quase me deixava depressivo, mas foi lendo as histórias da Bíblia que encontrei a FÉ, uma arma poderosa e acessível a todos os seres viventes deste planeta.

Encontrei histórias como a de Noé, Abraão e Davi. Pessoas limitadas e pobres como eu, vindas de famílias desajustadas como a minha. Mas que conseguiram mudar a realidade ao seu redor porque ACREDITARAM. Por fim, encontrei as palavras de Jesus Cristo que disse que “tudo seria possível a quem acreditasse”. Não precisava de mais nada para me convencer. Dentre as opções que eu tinha, ou eu recorreria à fé ou eu permaneceria inerte. Fiz a minha escolha pela fé, a qual sem obras se torna morta!

Foi por isso que me tornei aluno de filosofia e, enquanto meus contemporâneos disputavam vagas nas áreas do Direito, Medicina, Engenharia, Pedagogia e por ai vai, resolvi virar TEÓLOGO, para o encanto dos meus pais devotos e para desespero dos meu bolsos, que até hoje sofrem com esta escolha!

Para financiar meus estudos, entrei aos dezoito anos no mercado de trabalho na área de saúde e, mesmo depois de formado, lá permaneci. Não é como se eu tivesse desistido da missão. Fato que estava nessa profissão por dinheiro, até porque eu precisava, de fato, me alimentar e me vestir, no entanto o contato com o sofrimento humano ao ver as doenças e a morte foram marcantes na minha jornada.

E a área teológica não me parecia muito rentável. Não deixei de fazer uma ou outra benfeitoria ao longo dos anos. Auxiliei minha mãe em suas obras de caridade, filantropia e assistência espiritual. Fizemos muitas coisas em favor dos vulneráveis e desassistidos desde concessão de roupas e alimentos, encaminhamento ao mundo do trabalho, auxílio a desabrigados e etc.

Foi nesse período que notei que as pessoas (físicas e jurídicas) que possuíam os bens e recursos deste mundo não estavam nem aí para o sofrimento e aflição do povo. Ao contrário! Enquanto a vaidade de uns os deixavam cegos para enxergar a escassez dos excluídos, outros se tornavam deliberadamente surdos para o clamor dos necessitados. E a pior de todas as espécies humanas: os charlatões, que usavam a miséria alheia para dela lucrar, seja financeiramente seja politicamente.

Outra dura constatação foi a de que nosso trabalho, embora longe de ser vão, também não se mostrava plenamente efetivo. Ao mesmo tempo em que uma cesta básica era oferecida, outra família era lançada ao relento. Quando recuperávamos um jovem das garras das drogas, outro era cooptado pelo tráfico.

Ou seja, seria necessário um projeto elaborado e executado pelos pobres para os pobres (já que com a elite não se podia contar) e que ao mesmo tempo fosse além do auxílio aos vulnerabilizados, e sim que implantasse soluções que atingissem o mal em sua raiz como eu já havia mapeado lá nos primórdios. Foi por isso que criamos o Instituto de Beneficência e Espiritualidade Somos Valentes – IBESVA no ano de 2017.

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Atuação Política

Ao mesmo tempo em que notei que os obstáculos eram maiores do que as minhas possibilidades, também percebi que eu não estava sozinho. Vários outros niteroienses como meu amigo Germano Zambrotti, proprietário da Zambrotti Soluções em informática e amigos de fora do estado como Evaristo Neto, da Agência Apex do Sergipe, se identificaram com a minha luta e comprovamos que a nossa união ampliava nossa força no alcance dessas metas.

Apesar dessas excelentes parcerias que possibilitaram uma série de ações como as que estão registradas em nosso site www.ibesva.org.br (inserir link) a verdade é que sofremos demais com a falta de apoio do poder público. Eu explico: todo pequeno empreendedor e comerciante já sentiu como é pesada a mão do Estado sobre seus bolsos. Mas quando o assunto é atividade sem fim lucrativo e de cunho não religioso, aí a coisa fica surreal! Esclareça-se aqui que agir com fé e agir em favor de uma religião não são sinônimos.

Sim, porque a organizações sociais só existem unicamente porque o Estado não cumpre fielmente o seu dever. Mas em vez de nos apoiar e facilitar nosso trabalho, o que ocorria era justamente o oposto. Tivemos tantos contratempos, tanta má vontade e até retaliação por parte de alguns agentes públicos que chegamos a desanimar. Nunca pedimos absolutamente nada que não fosse nosso DIREITO, mas nossas demandas eram tratadas como se FAVORES fossem. Chegava a ser humilhante!

Sabemos que uma organização social para ser bem sucedida em seus intentos deve além de ter sustentabilidade financeira e logística, possuir o maior grau de independência possível em relação dos demais setores da sociedade, especialmente em relação ao governo. No entanto, por força de lei mesmo, há vários pontos de intersecção inevitáveis entre o poder público eleito e a sociedade civil organizada, fazendo com que seja impossível a ausência absoluta de diálogo, porém este deve se pautar sempre pela impessoalidade e pelo republicanismo.

Foi nesse contexto que, estimulado e orientado por vários amigos do IBESVA, decidi também participar da vida pública da minha cidade, com o propósito de destravar as amarras de fora para dentro, não somente para a instituição que fundamos, mas para todas aquelas que, como nós, sofre por falta de representatividade nos espaços de poder.

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Conferência sobre a Lei Maria da Penha promovida em parceria com a UBM.
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Congresso anual dos Valentes na Câmara Municipal de Niterói.
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Celebração de Páscoa para as crianças da comunidade.

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Ministério com Cidadania

Bom que se diga que meu relacionamento com o poder público, enquanto representante de uma organização da sociedade civil, não me fez declinar das minhas atividades pastorais, ao contrário.

Entendo que não são atuações que se antagonizam, pelo contrário, se complementam. A laicidade do Estado não deve ser confundida com Estado Antirreligioso.

Explico. Sou um reverendo pentecostal, e é a partir dessa posição que leio o mundo à minha volta. Porém, ciente de que minha fé e crenças, ainda que impulsionem minha atuação pública, de modo algum me levam ao fideísmo de pensar que esta é a única forma legítima de se viver religiosamente e tampouco que ela deva ser imposta aos demais.

Ao contrário, tirando a visão fundamentalista, que é uma deturpação dos ensinos mais basilares da cristandade, todos os demais ramos cristãos compreendem que “na casa do Pai há muitas moradas”, ou seja, unidade na diversidade é um objetivo a ser alcançado e isso só pode ser implantado horizontalmente, onde cada indivíduo possa interagir em favor do bem comum a partir de sua cosmovisão pessoal sem julgar-se superior ou inferior ao seu semelhante. Somos todos iguais em nossas diferenças!

Toda a minha atuação e de todos os Valentes que me acompanham é sempre no sentido da busca desse ideal, de que busquemos diálogos e ações conjuntas em prol de melhorias para todos, independentemente de etnias, gênero, orientação sexual, classe social, posicionamento ideológico ou filiação partidária. Todos os antagonismos podem ser harmonizados quando se tem o bem comum como objetivo último.

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Educação ao Alcance de Todos!

Não tem mistério! Basicamente nossa proposta é viável, ainda que complexa. Trata-se de, em parceria com as organizações da sociedade civil, as entes religiosos, o poder público e as famílias, popularizar o acesso ao conhecimento para todos os cidadãos vulnerabilizados, em especial os moradores de comunidade.

A ideia é a utilização de espaços públicos, templos religiosos em geral, sedes de associações e institutos, centros comunitários e todo e qualquer lugar que queira e possa ser um ponto de referência de disseminação de conhecimento de todas as ordens e níveis, conforme a vocação da entidade e da demanda local.

A grande novidade é que esta rede não se rivalizaria com a rede de ensino, uma vez que o conhecimento promovido e compartilhado não seria o da grade curricular tradicional e muito menos seria restrito a crianças e adolescentes. Há muito a ser ensinado! Desde canto e instrumentos à tecnologia e inteligência artificial, passando por artes culinárias e ensino de esportes, sempre a partir da realidade geográfica dos moradores da região onde nossos projetos são implementados.

Essa utopia só é possível com a adesão de todos, direcionando as diferenças em prol da unidade.

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